28.3.11

Andrea Raw - diretora


Bailarina, Professora, Coreógrafa e Pesquisadora em Dança, que iniciou seus estudos no Rio de Janeiro em 1983. Em sua formação estão Ballet Clássico, Jazz, Danças Folclóricas, Sapateado Americano e Dança Moderna. Dançou extensivamente em festivais por todo o país, além de ter atuado na Cia Nós da Dança de Regina Sauer e na Cia Khoros, de Marta Bastos. Graduou-se no Bacharelado em Artês Cênicas pela UNIRIO e em Docência dos Ensinos Fundamental, Médio e Superior pela Universidade Candido Mendes. Começou a lecionar em 1992, destacando-se no ensino da Dança Moderna (Técnicas de Lester Horton e de MarthaGraham). Entre as escolas onde lecionou estão o Ballet Stagium de São Paulo, Petite Danse, Escola de Dança Marta Bastos e Centro de Movimento Deborah Colker, no Rio de Janeiro e, mais recentemente, a Mozdulatmuveszet Studio (MMS) em Budapest, na Hungria. Recém formada na prestigiosa Martha Graham School of Contemporary Dance em Nova York, cidade por onde residiu durante três anos, Andrea também foi a idealizadora e produtora de vários eventos internacionais de Dança Moderna no Brasil, como o I e II Workshops de Técnica e Repertório de Martha Graham no Centro Coreográfico do Rio de Janeiro em 2009 e 2010, que contaram com a presença ilustre do Primeiro Bailarino da Graham Company, Tadej Brdnik, além de workshops com o coreógrafo David Parsons e com Ana Marie Forsythe, especialista da Técnica de Lester Horton do Alvin Ailey American Dance Center em NY.

1.6.10

Apresentação do Projeto Voo

Numa performance que vai da poesia ao Clown, do drama à técnica circense, a atriz, cantora e bailarina Luciana Bollina nos apresenta Voo, um monólogo que revela o percurso de uma jovem em busca do autoconhecimento, numa viagem lúdica sobre a eterna busca pela liberdade criativa.
Associando prosa, poesia, música, uso do corpo e acrobacia aérea à interpretação, o espetáculo aborda e põe em evidência os medos, as paixões, as seduções e os malefícios das drogas, os rótulos de imagem e beleza impostos pela sociedade, e a liberdade da aceitação da personalidade e da individualidade, valores humanos que se perdem no meio de uma geração multitarefa e dispersa. Com uma estrutura cênica intimista, que exige maior proximidade do público, Voo propõe um questionamento existencial e social, através dos conflitos comuns aos jovens sobre seu papel no mundo, e acompanha o incômodo da jovem personagem com relação aos limites e barreiras da sociedade e seu questionamento quanto aos rótulos do mundo material. Estabelece-se, assim, uma separação entre seu mundo interno e cheio de possibilidades e o mundo comum a todos nós. Todo o seu anseio está em se entender e revelar o seu potencial, podendo ser livre e feliz.
O teatro se aproxima de uma pintura viva, e a união da luz, da cor, das imagens, da música, da dança e da interpretação possibilita a compreensão dos sentimentos da personagem através de todos os canais de sensibilidade. Performático, poético, com uma linguagem artística muito ampla e com fortes objetivos sociais, filosóficos e existenciais, Voo põe em evidência os temores internos, os bloqueios externos, os hábitos de uma geração de jovens super conectada pelas tecnologias, amedrontada pela violência cotidiana e amparada por drogas e psicotrópicos utilizados como fuga e como forma de socialização.
Após uma temporada experimental no Teatrix de São Paulo, de agosto a outubro de 2007, em março de 2008 Voo participou do Festival Internacional de Teatro de Curitiba. Agora, sob a direção do ator, diretor e dramaturgo Ricardo Conti, chega ao Rio em nova montagem.

26.5.10

Uma Multidão de Mim

Sou fria e branca
Para entender o círculo que me contorna
E me fixa e estabiliza
Como a raiz de uma árvore que floresce.

Imito o sol, sendo amarela e laranja
Para que o preto sem estrelas não me engula
Ele apenas assombra e assopra.

Dentro de mim pode-se ver um quadro colorido com tons e sobre-tons.
O mundo tem uma sala.
Nela há quadros infinitos, porém coloridos...
O mundo é exigente, modifica os quadros pra uma sala mais bonita.
Sou arte pintada de Mundo Real.

22.5.10

O CÔNEGO OU METAFÍSICA DO ESTILO

De Machado de Assis


— "VEM DO LÍBANO, esposa minha, vem do Líbano, vem... As mandrágoras, deram o seu cheiro. Temos às nossas portas toda casta de pombos..."
— "Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, que se encontrardes o meu amado, lhe façais saber que estou enferma de amor..."
Era assim, com essa melodia do velho drama de Judá, que procuravam um ao outro na cabeça do Cônego Matias um substantivo e um adjetivo... Não me interrompas, leitor precipitado; sei que não acreditas em nada do que vou dizer. Di-lo-ei, contudo, a despeito da tua pouca fé, porque o dia da conversão pública há de chegar.
Nesse dia, — cuido que por volta de 2222, — o paradoxo despirá as asas para vestir a japona de uma verdade comum. Então esta página merecerá, mais que favor, apoteose. Hão de traduzi-la em todas as línguas. As academias e institutos farão dela um pequeno livro, para uso dos séculos, papel de bronze, corte-dourado, letras de opala embutidas, e capa de prata fosca. Os governos decretarão que ela seja ensinada nos ginásios e liceus. As filosofias queimarão todas as doutrinas anteriores, ainda as mais definitivas, e abraçarão esta psicologia nova, única verdadeira, e tudo estará acabado. Até lá passarei por tonto, como se vai ver.
Matias, cônego honorário e pregador efetivo, estava compondo um sermão quando começou o idílio psíquico. Tem quarenta anos de idade, e vive entre livros e livros para os lados da Gamboa. Vieram encomendar-lhe o sermão para certa festa próxima; ele que se regalava então com uma grande obra espiritual, chegada no último paquete, recusou o encargo; mas instaram tanto, que aceitou.
— Vossa Reverendíssima faz isto brincando, disse o principal dos festeiros.
Matias sorriu manso e discreto, como devem sorrir os eclesiásticos e os diplomatas. Os festeiros despediram-se com grandes gestos de veneração, e foram anunciar a festa nos jornais, com a declaração de que pregava ao Evangelho o Cônego Matias, "um dos ornamentos do clero brasileiro". Este "ornamento do clero" tirou ao cônego a vontade de almoçar, quando ele o leu agora de manhã; e só por estar ajustado, é que se meteu a escrever o sermão.
Começou de má vontade, mas no fim de alguns minutos já trabalhava com amor. A inspiração, com os olhos no céu, e a meditação, com os olhos no chão, ficam a um e outro lado do espaldar da cadeira, dizendo ao ouvido do cônego mil cousas místicas e graves. Matias vai escrevendo, ora devagar, ora depressa. As tiras saem-lhe das mãos, animadas e polidas. Algumas trazem poucas emendas ou nenhumas. De repente, indo escrever um adjetivo, suspende-se; escreve outro e risca-o;
mais outro, que não tem melhor fortuna. Aqui é o centro do idílio. Subamos à cabeça do cônego.
Upa! Cá estamos. Custou-te, não, leitor amigo? É para que não acredites nas pessoas que vão ao Corcovado, e dizem que ali a impressão da altura é tal, que o homem fica sendo cousa nenhuma. Opinião pânica e falsa, falsa como Judas e outros diamantes. Não creias tu nisso, leitor amado. Nem Corcovados, nem Himalaias valem muita cousa ao pé da tua cabeça, que os mede. Cá estamos. Olha bem que é a cabeça do cônego. Temos à escolha um ou outro dos hemisférios cerebrais; mas vamos por este, que é onde nascem os substantivos. Os adjetivos nascem no da esquerda. Descoberta minha, que ainda assim não é a principal, mas a base dela, como se vai ver. Sim, meu senhor, os adjetivos nascem de um lado, e os substantivos de outro, e toda a sorte de vocábulos está assim dividida por motivo da diferença sexual...
— Sexual?
Sim, minha senhora, sexual. As palavras têm sexo. Estou acabando a minha grande memória psico-léxico-lógica, em que exponho e demonstro esta descoberta. Palavra tem sexo.
— Mas, então, amam-se umas às outras?
Amam-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas é o que chamamos estilo. Senhora minha, confesse que não entendeu nada.
— Confesso que não.
Pois entre aqui também na cabeça do cônego. Estão justamente a suspirar deste lado. Sabe quem é que suspira? É o substantivo de há pouco, o tal que o cônego escreveu no papel, quando suspendeu a pena. Chama por certo adjetivo, que lhe não aparece: "Vem do Líbano, vem..." E fala assim, pois está em cabeça de padre; se fosse de qualquer pessoa do século, a linguagem seria a de Romeu: "Julieta é o sol... ergue-te, lindo sol." Mas em cérebro eclesiástico, a linguagem é a das Escrituras. Ao cabo, que importam fórmulas? Namorados de Verona ou de Judá falam todos o mesmo idioma, como acontece com o thaler ou o dólar, o florim ou a libra que é tudo o mesmo dinheiro.
Portanto, vamos lá por essas circunvoluções do cérebro eclesiástico, atrás do substantivo que procura o adjetivo. Sílvio chama por Sílvia. Escutai; ao longe parece que suspira também alguma pessoa; é Sílvia que chama por Sílvio.
Ouvem-se agora e procuram-se. Caminho difícil e intrincado que é este de um cérebro tão cheio de cousas velhas e novas! Há aqui um burburinho de idéias, que mal deixa ouvir os chamados de ambos; não percamos de vista o ardente Sílvio, que lá vai, que desce e sobe, escorrega e salta; aqui, para não cair, agarra-se a umas raízes latinas, ali abordoa-se a um salmo, acolá monta num pentâmetro, e vai sempre andando, levado de uma força íntima, a que não pode resistir.
De quando em quando, aparece-lhe alguma dama — adjetivo também — e oferece-lhe as suas graças antigas ou novas; mas, por Deus, não é a mesma, não é a única, a destinada ab eterno para este consórcio. E Sílvio vai andando, à procura da única. Passai, olhos de toda cor, forma de toda casta, cabelos cortados à cabeça do Sol ou da Noite; morrei sem eco, meigas cantilenas suspiradas no eterno violino; Sílvio não pede um amor qualquer, adventício ou anônimo; pede um certo amor
nomeado e predestinado.
Agora não te assustes, leitor, não é nada; é o cônego que se levanta, vai à janela, e encosta-se a espairecer do esforço. Lá olha, lá esquece o sermão e o resto. O papagaio em cima do poleiro, ao pé da janela, repete-lhe as palavras do costume e, no terreiro, o pavão enfuna-se todo ao sol da manhã; o próprio sol, reconhecendo o cônego, manda-lhe um dos seus fiéis raios, a cumprimentá-lo. E o raio vem, e pára diante da janela: "Cônego ilustre, aqui venho trazer os recados do sol, meu senhor e pai." Toda a natureza parece assim bater palmas ao regresso daquele galé do espírito. Ele próprio alegra-se, entorna os olhos por esse ar puro, deixa-os ir fartarem-se de verdura e fresquidão, ao som de um passarinho e de um piano; depois fala ao papagaio, chama o jardineiro, assoa-se, esfrega as mãos, encosta-se. Não lhe lembra mais nem Sílvio nem Sílvia.
Mas Sílvio e Sílvia é que se lembram de si. Enquanto o cônego cuida em cousas estranhas, eles prosseguem em busca um do outro, sem que ele saiba nem suspeite nada. Agora, porém, o caminho é escuro. Passamos da consciência para a inconsciência onde se faz a elaboração confusa das idéias, onde as reminiscências dormem ou cochilam. Aqui pulula a vida sem formas, os germens e os detritos, os rudimentos e os sedimentos; é o desvão imenso do espírito. Aqui caíram eles, à procura um do outro, chamando e suspirando. Dê-me a leitora a mão, agarre-se o leitor a mim, e escorreguemos também.
Vasto mundo incógnito. Sílvio e Sílvia rompem por entre embriões e ruínas. Grupos de idéias, deduzindo-se à maneira de silogismos, perdem-se no tumulto de reminiscências da infância e do seminário. Outras idéias, grávidas de idéias, arrastam-se pesadamente, amparadas por outras idéias virgens. Cousas e homens amalgamam-se; Platão traz os óculos de um escrivão da câmara eclesiástica; mandarins de todas as classes distribuem moedas etruscas e chilenas, livros ingleses e rosas pálidas; tão pálidas, que não parecem as mesmas que a mãe do cônego plantou quando ele era criança. Memórias pias e familiares cruzam-se e confundem-se. Cá estão as vozes remotas da primeira missa; cá estão as cantigas da roça que ele ouvia cantar às pretas, em casa; farrapos de sensações esvaídas, aqui um medo, ali um gosto, acolá um fastio de cousas que vieram cada uma por sua vez, e que ora jazem na grande unidade impalpável e obscura.
— Vem do Líbano, esposa minha...
— Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém...
Ouvem-se cada vez mais perto. Eis aí chegam eles às profundas camadas de teologia, de filosofia, de liturgia, de geografia e de história, lições antigas, noções modernas, tudo à mistura, dogma e sintaxe. Aqui passou a mão panteísta de Spinoza, às escondidas; ali ficou a unhada do Doutor Angélico; mas nada disso é Sílvio nem Sílvia. E eles vão rasgando, levados de uma força íntima, afinidade secreta, através de todos os obstáculos e por cima de todos os abismos. Também os desgostos hão de vir. Pesares sombrios, que não ficaram no coração do cônego, cá estão, à laia de manchas morais, e ao pé deles o reflexo amarelo ou roxo, ou o que quer que seja da dor alheia e universal. Tudo isso vão eles cortando, com a rapidez do amor e do desejo.
Cambaleias, leitor? Não é o mundo que desaba; é o cônego que se sentou agora mesmo. Espaireceu à vontade, tornou à mesa do trabalho, e relê o que escreveu, para continuar; pega da pena, molha-a, desce-a ao papel, a ver que adjetivo há de anexar ao substantivo.
Justamente agora é que os dous cobiçosos estão mais perto um do outro. As vozes crescem, o entusiasmo cresce, todo o Cântico passa pelos lábios deles, tocados de febre. Frases alegres, anedotas de sacristia, caricaturas, facécias, disparates, aspectos estúrdios, nada os retém, menos ainda os faz sorrir. Vão, vão, o espaço estreita-se. Ficai aí, perfis meio apagados de paspalhões que fizeram rir ao cônego, e que ele inteiramente esqueceu; ficai, rugas extintas, velhas charadas, regras de voltarete, e vós também, células de idéias novas, debuxos de concepções, pó que tens de ser pirâmide, ficai, abalroai, esperai, desesperai, que eles não têm nada convosco. Amam-se e procuram-se.
Procuram-se e acham-se. Enfim, Sílvio achou Sílvia. Viram-se, caíram nos braços um do outro, ofegantes de canseira, mas remidos com a paga. Unem-se, entrelaçam os braços, e regressam palpitando da inconsciência para a consciência. "Quem é esta que sobe do deserto, firmada sobre o seu amado?", pergunta Sílvio, como no Cântico; e ela, com a mesma lábia erudita, responde-lhe que "é o selo do seu coração", e que "o amor é tão valente como a própria morte".
Nisto, o cônego estremece. O rosto ilumina-se-lhe. A pena cheia de comoção e respeito completa o substantivo com o adjetivo. Sílvia caminhará agora ao pé de Sílvio, no sermão que o cônego vai pregar um dia destes, e irão juntinhos ao prelo, se ele coligir os seus escritos, o que não se sabe.

3.5.10

O Mago




"No centro das recordações de Hesse (escritor de "Sidarta", "Demian" e outros) um desejo que não só fundou a sua literatura: o de se tornar um mago. Esse sonho, ele rememora, surgiu quando ainda era um menino. Homem maduro, ele o vê como "fruto de uma certa insatisfação com o que chamavam realidade e que às vezes me parecia ser apenas uma tola convenção dos adultos"".

José Castello no jornal O Globo.

22.4.10

Soldados Prontos?

Meus sinceros votos de paz
Àqueles que vivem inundados na beleza e na desgraça
Que se comece um novo tempo depois das traças
E a calamidade se transforme em cais

De Sorocaba até o Rio
Vejo a vida por outro ângulo
Imersa em sonhos de criança
Não desistindo de entrar na dança
Comungo da diferença espero e espio

Tudo passa assa e caça
No último grito triste dos ignorantes
Anunciando o aço da justiça
Fazendo parte de uma ameaça
Testando rezas para ser como antes
Liquidando o sonho da máscara postiça

Talvez agora possamos ser mais do que somos
E a calamidade represente um sonho
Sonhado por pequenos capitães de notas
Que acordarão soldados prontos para guiar as tropas

É um desejo nobre e forçado
Filho de um tempo pobre e alvoroçado
Representando o ponto de mutação
Do capitalismo à revolução!